Em encontro com lideranças nacionais dos setores do comércio, serviços e turismo, ex-primeiro ministro britânico propôs reflexões sobre o papel do Estado, a necessidade de educação para tecnologia e as reformas estruturais. “As pessoas realmente não querem ter que se importar com o debate político, elas querem que o governo melhore suas condições, que garanta que o futuro seja melhor para seus filhos.” A afirmação foi dada pelo ex-primeiro-ministro do Reino Unido Tony Blair, ao abordar a política polarizada entre direita e esquerda, durante o painel Segurança Jurídica e Perspectivas Nacionais e Internacionais, na primeira edição do CNC Global Voices. O evento foi realizado pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), nesta segunda-feira (25), em São Paulo. Promovido para cerca de 500 convidados, o debate recebeu lideranças nacionais do varejo, serviços e turismo para discutir os desafios e as oportunidades que moldarão o futuro da economia.
Na abertura do evento, o presidente do Sistema CNC-Sesc-Senac, José Roberto Tadros, ressaltou que o CNC Global Voices se propõe a ser uma plataforma fundamental para conectar o Brasil aos principais temas políticos e econômicos globais. “Vivemos um momento em que a inovação e a colaboração são mais importantes do que nunca. Nosso compromisso é estar sempre à frente dos desafios que o setor enfrenta, buscando soluções inovadoras e estratégicas para impulsionar o comércio de bens, serviços e turismo, pilares fundamentais da nossa economia”, afirmou.
Em seguida, Tony Blair discorreu sobre diversos temas, entre eles a segurança jurídica para o ambiente de negócios, as experiências que teve como primeiro-ministro do Reino Unido e, agora, com a frente da ONG Tony Blair Institute for Global Change. Ressaltando a importância da execução de planos políticos para além da burocracia, defendeu que os líderes podem até ter ótimas ambições, mas é fundamental que consigam estruturar boas políticas públicas para implementarem os planos mais ambiciosos, do contrário não conseguirão vencer os obstáculos.
Nesse sentido, o ex-primeiro-ministro destacou o papel da inteligência artificial (IA) e das novas tecnologias para aumento da produtividade, não só do ponto de vista mercadológico, mas também no âmbito dos governos. Para ele, não há outra possibilidade de evolução para as empresas e para a sociedade que não seja pela tecnologia. Para citar um exemplo de revolução na segurança pública, segundo Blair, a IA representa uma ferramenta para solução de conflitos. “Em Londres, a tecnologia do reconhecimento facial contribuiu muito para reduzir os índices de criminalidade, por exemplo”, completou.
Para viabilizar a IA na sociedade, contudo, Blair deixou claro que o ponto crucial seria a educação, sem a qual as pessoas teriam dificuldade para se adaptar a um novo mundo mais tecnológico. “Não podemos ter uma situação em que só a elite é instruída e a grande parcela da população não recebe educação de qualidade”, afirmou.
PAPEL DO ESTADO NA ECONOMIA
Na continuação da agenda, o debate mediado pela repórter da CNN Thais Herédia abordou de que forma os Estados podem equilibrar decisões que atendam às necessidades sociais e ao mesmo tempo contemplem o que é importante para o ambiente de negócios, para não perderem a previsibilidade e a segurança jurídica. Tony Blair respondeu que, quando ele era primeiro-ministro, havia uma terceira via que lhe possibilitava fugir da binariedade “social ou mercado”. “Também é verdade que, para os negócios, um mercado livre e competitivo é melhor que uma economia regida pelo Estado”, explicou.
Fechando o debate, o ex-presidente do Brasil Michel Temer disse estar otimista com a economia. “O Brasil é maior que qualquer crise, nós sempre vencemos os maiores obstáculos. Eu só espero que, daqui a 20 anos, não estejamos debatendo, ainda, a criação e manutenção de novos sistemas assistenciais, como Bolsa Família. Temos que incentivar o empreendedorismo para que o assistencialismo deixe de ser necessário. Isso só será possível com as reformas que conseguimos fazer nos últimos anos”, ressaltou.
Ao final, para a imprensa, Temer defendeu que seria interessante para a sociedade ter alguma segurança a respeito do que o atual governo pretende fazer no âmbito econômico, nos próximos dois anos. Sobre o pacote de corte de gastos, o ex-presidente defendeu ser uma boa medida, já que, ao reduzir a dívida pública, pagam-se menos juros.