PRESSÃO NOS CÉUS : DEPRESSÃO E FADIGA AMEAÇAM SEGURANÇA DE VOO

26/08/2025

  A rotina dos pilotos, marcada por longas jornadas, pressão constante e elevada responsabilidade, revela um problema pouco visível: o impacto da saúde mental na segurança aérea. Pesquisas nacionais e internacionais apontam que sintomas depressivos e outros transtornos afetam uma parcela significativa desses profissionais, mas o estigma e o medo de represálias ainda afastam muitos do diagnóstico e do tratamento. O tema ganhou destaque após o acidente do voo Germanwings 9525, em 2015, quando o copiloto, diagnosticado com depressão, provocou deliberadamente a queda da aeronave, resultando na morte de 150 pessoas. O caso expôs a urgência de abordar a saúde psicológica na aviação. Segundo estudo da Harvard T.H. Chan School of Public Health, 12,6% dos pilotos que responderam anonimamente ao questionário PHQ-9 apresentaram indicadores de depressão clínica, e 4,1% relataram pensamentos suicidas. No Brasil, pesquisas da UFRJ e da Força Aérea confirmam os riscos, destacando fatores como sobrecarga de trabalho, pressão por desempenho e conflitos de valores corporativos.


 

FATORES DE RISCO
 

  Os principais elementos que contribuem para o adoecimento mental de pilotos incluem:

  • Condições de trabalho: jornadas extensas, escalas irregulares e longos períodos longe da família.
  • Aspectos organizacionais: ambientes competitivos e culturas que desestimulam a exposição de fragilidades.
  • Estigma: receio de perder a licença de voo ao relatar sintomas.

  O estudo de Harvard também mostrou que o uso frequente de medicamentos para dormir aumenta a prevalência de depressão. No Brasil, a instabilidade contratual e a precarização em certos segmentos agravam o quadro.


 

RISCOS OPERACIONAIS
 

  Problemas psicológicos não tratados impactam diretamente a segurança dos voos. Fadiga, irritabilidade, dificuldades de concentração e impulsividade comprometem o julgamento dos pilotos. Apesar da crescente conscientização, os programas de apoio ainda são limitados.


 

SINTOMAS COMUNS
 

  Entre os sinais mais relatados estão insônia persistente, perda de interesse em atividades, fadiga constante, alterações de apetite e burnout. A prevalência é maior em pilotos que sofrem assédio ou utilizam remédios para dormir.


 

CAMINHOS PARA PREVENÇÃO
 

  Especialistas defendem a criação de políticas institucionais que normalizem o cuidado psicológico, como:

  • Programas confidenciais de apoio;
  • Treinamentos em saúde mental para todas as hierarquias;
  • Flexibilização de escalas e respeito ao ritmo biológico;
  • Monitoramento contínuo da saúde mental;
  • Terapias online, como a Cognitivo-Comportamental (ICBT), eficaz em quadros leves a moderados.

  Além disso, os pilotos podem adotar estratégias pessoais, como vigilância sobre mudanças de comportamento, priorização do descanso, higiene do sono, fortalecimento de vínculos sociais e busca precoce por apoio profissional.

 

 

CONCLUSÃO

 

  O cuidado com a saúde mental dos pilotos é fundamental não apenas para a preservação individual, mas também para a segurança da aviação. Superar o estigma, ampliar o suporte institucional e incentivar a conscientização são passos essenciais para proteger quem conduz milhares de vidas diariamente.

 

  Assim como a aviação superou desafios técnicos ao longo da história, agora precisa enfrentar com rigor os desafios invisíveis da mente humana.

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